terça-feira, 20 de novembro de 2012

A sociedade celta e seus costumes culturais







A sociedade celta era centrada na unidade familiar (ou clann / fine) e na tribo (sistema tribal_ Tuath).     Sendo que, o Tuath era o agrupamento de diversas famílias, que habitavam o mesmo espaço e viviam sob a orientação de um príncipe local, ou Chefe Tribal (Chifigan). A organização céltica assemelhava-se em muitos pontos a organização feudal, pois possuía estratos sociais bem definidos e as tribos (ou, na Idade Média, feudos) não estavam subordinados diretamente a um governo central e forte. As tribos celtas eram autocéfalas (governadas por si, entre si; idependentes), sendo unidas somente pelo idioma, religião e costumes.

De organização tipicamente aristocrática, distinguiam-se quatro classe: Druidas, Guerreiros e Nobres, Cidadãos livres e Escravos. Os Druidas constituíam uma privilegiada e influente classe que transcendia as divisões tribais. Os Guerreiros eram outra classe de grande importância para os celtas, o próprio chefe do clã era, essencialmente, um guerreiro.
A Aristocracia celta era sustentada por “clientelas”, onde o status de um nobre era definido pelo número de clientes. Nesta relação, clientes abriam mão de qualquer status dentro do clã e passavam a ter encargos exclusivamente com o nobre, em compensação, o patrono lhes garantia proteção legal, e fazia-lhes diversos donativos. Uma relação assemelhada à vassalagem e suserania feudal.

No exercício da política, possuíam grande senso democrático. Reis ou chefes poderiam ser impedidos de exercer suas funções se fossem julgados incapazes ou desonestos, e a sucessão não obedecia necessariamente à hereditariedade.
Homens e mulheres eram tratados de forma igualitária. Em assuntos de interesse de toda tribo, as mulheres tinham o mesmo poder opinativo que os homens. Muitos estudiosos sugerem que este comportamento provenha de uma cultura com forte reverência a mulher, na figura da Deusa-Mãe (cultura proto-celta?). O povo celta era extremamente ligado a religião (Druidismo), sendo que esta jamais foi separada da política, da arte ou de qualquer outro campo da vida céltica, e foi exatamente a religião que fez dos celtas um povo consciente da importância feminina na sociedade.

Estrutura social celta

O mundo celta não era homogêneo e as suas estruturas sociais dependiam, até certo ponto, do meio ambiente e dos recursos disponíveis. Nas terras menos férteis ao longo da franja atlântica da Grã-Bretanha e da Irlanda, por exemplo, formas de organização sociais menos hierárquicas e em menor escala mantiveram-se por mais tempo, que nas terras de cultivo mais ricas do Sul da Grã-Bretanha e na Europa continental. A principal forma de organização social no mundo celta, no inicio do período de La Tène, eram os clãs, um tipo de sociedade hierárquica que sobreviveu na Irlanda e nas Terras Altas da Escócia, até depois da Idade Media. Os clãs eram sociedades hierárquicas onde a posição e estatuto muitas vezes dependia da linhagem e da herança. Em antigas sociedades celtas, os chefes usualmente descendiam de uma linhagem superior da comunidade, isto é, a linhagem que se acreditava ser a que descendia diretamente do fundador da comunidade. A maior parte dos clãs parece ter tido uma base tribal. Na Gália tribal, os territórios subdividiam-se em pagi "distritos", que eram governados por famílias ou clãs subalternos. Abaixo do chefe, a classe mais importante na sociedade celta era a aristocracia guerreira. Os banquetes e a guerra eram as atividades mais importantes para o chefe e seus guerreiros. O banquete tornava-se uma oportunidade para o chefe mostrar a sua riqueza, comprazer-se com uma generosa hospitalidade e distribuir presentes de joalharia, armas ou gado. Esta atitude de grandeza não era desinteressada: tinha a intenção de atrair seguidores e manter a lealdade dos já existentes. Aqueles que aceitavam a hospitalidade do chefe e os seus presentes, ficavam também com a obrigação de dar algo em retorno. Os guerreiros cumpriam esta obrigação prestando serviço militar. Em relação aos guerreiros, a sua honrada posição no banquete e os presentes do chefe reforçavam o seu estatuto social dentro da tribo. O banquete era uma ocasião competitiva para os guerreiros conscientes do seu estatuto: gabar-se, comer e beber heroicamente e as lutas ocasionais sobre quem teve o melhor bocado de carne, não eram apenas a falta de educação, que os Gregos e Romanos pensavam ser o que se podia esperar de bárbaros. Abaixo dos guerreiros existia uma pequena classe de artífices especializados e bardos, cujas atividades reforçavam o estatuto da elite, quer pela produção de joalharia espetacular, armas e armaduras para eles usarem, quer cantando os seus feitos em banquetes e outras ocasiões públicas. Na Grã-Bretanha e na Gália existia também uma classe profissional chamada druidas, que tinha um elevado estatuto devido ao seu conhecimento em adivinhação, leis, tradições tribais, medicina e afins.
A classe mais vasta da sociedade celta era o campesinato mas, tal como César observou, não tinha qualquer influencia política na tribo. Embora tecnicamente fossem livres, a maioria dos camponeses dependia de algum modo da aristocracia. Este era o preço por pedirem o seu apoio depois de perdas de colheita ou outros desastres, o que nas sociedades camponesas pré-industriais era habitual acontecer a cada seis anos. Os Celtas também mantinham e comerciavam escravos, mas não à escala das civilizações mediterrânicas. As mulheres gozavam de maior estatuto que no mundo mediterrânico e na Grã-Bretanha havia mesmo mulheres governantes.
Escritores gregos e romanos, cujas mulheres passavam a maior parte da vida confinada às suas casas, pensavam que a relativa liberdade que os Celtas permitiam às suas mulheres era um sinal da sua barbárie. No entanto, a sociedade celta era dominada pelos homens e não existe uma evidência convincente da instituição matriarcal, nem uma linhagem matriarcal, como é muitas vezes afirmado por historiadoras feministas.
Tipicamente, a residência de um chefe de clã seria num forte sobre uma colina, que também servia como refúgio para a tribo e o seu castelo em tempos de guerra é, muitas vezes, como centro religioso. A forma mais simples de um forte era apenas um fosso à frente de uma muralha de terra e uma paliçada em madeira, à volta do topo de uma colina. Era comum irem adicionando defesas extras ao longo do tempo - por exemplo, circuitos de plataformas e portas sofisticadas, que não podiam ser alcançadas, exceto sob um ataque cerrado em caso de defesa. As técnicas de construção variam desde o simples acumular de terra para proteção, ao murus gallicus (muralha gaulesa), uma técnica complexa de madeiras atadas. Em trincheiras de madeira atada, o trabalho de armação das madeiras era preenchido com terra ou entulho, face a face com uma parede vertical de pedra. Estas trincheiras eram mais difíceis de escalar do que as muralhas de terra em declive e eram muito resistentes à escavações e ataques, porem, podiam ser incendiadas. São conhecidos vários fortes na Escócia, onde o calor intenso dos incêndios vitrificou o trabalho em pedra que os rodeava. Estudos de colônias de Hampshire Downs, no Sul da Inglaterra da Idade do Ferro, mostraram como o forte de Danebury era a "capital" de um território que incluía varias aldeias dependentes. Os fortes não foram construídos em toda a Europa celta. No Norte e Ocidente da Escócia havia centenas de pequenos fortes redondos em pedra chamados duns e torres em pedra com o nome de brochs. A proliferação destas fortificações, em tamanho familiar, é sinal de que a sociedade que prevaleceu nestas regiões era muito descentralizada, sem quaisquer unidades de larga escala política capazes de imporem a paz sobre uma grande área.
Os chefes de clãs sobreviveram na Irlanda até no século XVI d.e.c.  e nas Terras Altas da Escócia ate ao século XVIII, mas na maior parte da Europa celta nos últimos séculos antes da era cristã, começaram a transformar-se em reinos e repúblicas tribais. O comercio com o mundo mediterrânico pode ter estimulado este processo de formação, mas as causas principais eram internas: o crescimento da população e o aumento da prosperidade, com base numa agricultura eficiente. O processo de centralização pode ser visto pela mudança dos padrões de povoamento. Em South Downs, na Inglaterra, à medida que o poder começou a concentrar-se em menos centros importantes, dos 24 fortes ocupados cerca de 500 anos a.e.c., restavam apenas oito, 100 anos a.e.c. As defesas desses fortes que ainda se utilizavam tornaram-se mais pesadamente fortificadas, refletindo o aumento da condição social. Nesta altura, os fortes tinham sido abandonados na maior parte da Europa celta, em troca por locais mais convenientes e maiores, chamados oppida. Os oppida tinham as mesmas funções que os fortes, mas eram também centros para comercio de longa distância, recolha de impostos e de produção de colheitas.
Apesar de os oppida serem construídos muitas vezes em terrenos mais baixos, a conveniência do local para a defesa era ainda tida como muito importante. O oppidum de Kelheim na Alemanha, por exemplo, foi construído na confluência de dois rios, possibilitando defesas naturais em dois lados. Os oppida tinham usualmente muralhas bem construídas e algumas vezes defesas adicionais como, por exemplo, os trabalhos alongados e estreitos em terra, que protegiam a aproximação ao oppidum de Colchester em Essex. A maioria dos oppida tem um caráter semi-urbano, mas alguns eram povoações totalmente funcionais, com populações densamente compactas, como o oppidum celtibero em Numancia, que foi projetado com uma grelha de ruas ordenada. Esta prova de planejamento urbano é um sinal da existência de uma autoridade forte e centralizada.
As instituições destes estados celtas também eram similares e podem ter sido copiadas das civilizações do Mediterrâneo. Os Éduos gauleses eram governados por magistrados eleitos chamados vergobrets e tinham uma constituição que impedia que uma família qualquer alcançasse o monopólio sobre essa instituição. Os Nervios belgas eram governados por um rei e um "senador" consultivo escolhido entre os 300 aristocratas principais da tribo. Os primeiros estados celtas baseavam-se na tribo e nos grupos de parentesco, em vez de no controle de um território em particular. Por isso, um estado celta podia, se necessário, mudar de local, tal como os Helvécios fizeram por duas vezes no século I a.e.c. A vida política nos estados celtas não era muito diferente da vida da Republica romana. Tal como romanos ambiciosos, como Cesar e Pompeu, conspiraram para ultrapassar magistrados eleitos e senadores para alcançarem o poder absoluto, também o fizeram aristocratas ambiciosos, como Orgatorix dos Helvécios e Vercingetorix dos Arvernos. O sistema de clientela pelo qual os chefes celtas e aristocratas mantinham e protegiam os seus dependentes, em retorno de apoio militar ou político, não andava muito longe do que era praticado pelos aristocratas romanos, sob a República.
O processo da formação do estado levou à adoção da alfabetização, utilizando uma variedade de escritas de outras proveniências. A linguagem celta inicial a ser escrita foi o lepôncio, falado no Nordeste de Itália nos séculos V e VI a.e.c. São conhecidas cerca de 40 inscrições nesta língua, usando todas o alfabeto etrusco. Os Celtiberos adotaram a versão da escrita ibérica (também ela baseada na escrita fenícia), no século III a.e.c. Os Gauleses usaram, quer o alfabeto grego, quer o latino e na Grã-Bretanha o alfabeto latino foi usado no século I d.e.c. Os Celtas antes das conquistas romanas, ainda não se encontravam completamente alfabetizados, pelo que a maior parte da cultura se transmitia oralmente. A escrita era usada principalmente para memoriais e dedicatórias, mas na véspera da conquista já se utilizava cada vez mais na administração para censos tribais e trabalhos afins. Depois de Cesar ter derrotado os Helvécios em 58 a.e.c., encontrou documentos nos seus campos, escritos em caracteres gregos, com o nome de todos os membros da tribo, que podiam manejar armas e listas de homens idosos, mulheres e crianças. Considerando que o total, incluindo aliados, era de 368.000, esta era uma considerável proeza de trabalho administrativo. No entanto, a eloqüência dos Celtas, uma das características que os escritores gregos e romanos achavam ser das que mais os distinguia, continuava a ser necessária, sendo a retórica, a arte do discurso e da persuasão, o principal meio de ganhar influencia nos concílios tribais. Esta era uma habilidade que os Gregos e Romanos admiravam nos Celtas, porque a retórica era também para eles uma técnica importante.
Outro sinal do aumento da sofisticação política e econômica dos Celtas foi a adoção do sistema monetário. No século II a.e.c., os Celtas na Europa Central e na Gália começaram a utilizar e a emitir moedas em ouro e prata. As moedas baseavam-se, usualmente, em protótipos gregos e romanos e eram muitas vezes de grande qualidade, com legendas em caracteres gregos ou em latim e gravuras dos governantes que as tinham emitido. Portanto, os governantes celtas estavam conscientes, tal como, os governantes mediterrânicos, do valor da propaganda nas moedas. No inicio, estas moedas eram provavelmente mais usadas pelos chefes para premiar os seus seguidores, mas quando da conquista da Gália pelos Romanos, estava a começar a desenvolver-se uma verdadeira economia em numerário. A moeda era também largamente usada no Sudeste da Gra-Bretanha, um século antes da conquista romana.

Hábitos e Características



A vida celta era centrada em um ambiente rural, sem grandes centros urbanos como Roma. A própria economia baseava-se na agricultura e no pastoreio, sendo que o comércio também tinha grande importância.
A vida cotidiana, atualmente, tem sido objeto de vários estudos. Escavações arqueológicas acabaram revelando aldeias com grande grau de conservação, possibilitando uma reprodução mais fidedigna do dia-a-dia celta.

É sabido que viviam em aldeias de orientação campestre, e descobertas arqueológicas revelam que viviam de maneira simplória em casas de madeira, argila e até pedra. Mas com grande preocupação no que se refere à decoração e ornamentação. Eram exímios no trabalho com metais, tanto que as peças e utensílios confeccionados pelos celtas circulavam em todo a Europa Ocidental. A caldeiraria é um notável exemplo da eminência céltica na metalurgia.

Mesmo cidadãos comuns mantinham em suas casas um número razoável de utensílios, como armas, foices, facões, enxadas e até peças ornamentais.

Sobre os hábitos alimentares, os cereais e as frutas eram comuns no cardápio celta; além da carnes e peixes, todos fruto da caçada que era muito comum. Sabe-se que eles consumiam o Hidromel, uma bebida alcoólica bastante antiga da espécie do vinho e, como o próprio nome sugere, era obtida através da mistura do mel e da água.

Os hábitos funerários, pelas evidências arqueológicas, indicam uma forte influência dos povos circunvizinhos. Aristocratas eram enterrados com diversos pertences cuidadosamente trabalhados, entre eles vasos, armas e outros. Era comum o morto ornar uma espécie de gargantilha de valor bastante significativo, chamada torqui. Esse tipo de colar era bastante peculiar da cultura celta, possuía forma tubular com desenhos de espirais concêntricos. Assim como em outras culturas, os ornamentos diziam muito sobre o morto. Os torquis de ouro, por exemplo, indicavam que o corpo sepultado era certamente um aristocrata.

A bravura dos guerreiros celtas sempre é citada em qualquer livro sobre esta civilização.          Os celtas foram objeto de observações de vários autores romanos, que os descreviam como um povo bárbaro, inclusive Júlio César narrou sua conquista sobre a Gália nos famosos sete volumes do “De bello gallico” (ou “Sobre a guerra gálica”). Outros aspectos das características celtas são sempre destacados por esses autores de Roma. Um dos mais célebres relatos é do historiador romano Deodoro:



“... O aspecto é aterrorizante... São altos de estatura, com fortes músculos sob uma clara pele branca. Têm cabelos loiros, no entanto, não é um loiro natural: eles os descolorem... e os penteiam para trás. Parecem demônios de madeira, com seus cabelos grossos e despenteados como crina de cavalo. Alguns têm a face barbeada, mas outros – em especial altos dignitários - barbeiam as bochechas mas mantêm um bigode que cobre toda a boca... Eles vestem camisas bordadas e coloridas, com calças chamadas bracae e um manto preso aos ombros por um broche, escuro no inverno e claro no verão. Esses mantos são listrados ou quadriculados e possuem diversas cores...”

O espanto de Deodoro é bastante evidente. Neste pequeno trecho ele cita o aspecto “aterrorizante” dos celtas e, de certa forma, ele não estava errado. Em batalhas, os guerreiros celtas usavam os conhecidos capacetes com chifres, pintavam o corpo com tinta azul, era comum irem descalços e os guerreiros se organizavam de forma caótica em comparação as legiões romanas. Mas o fator que mais chamava a atenção destes autores era o hábito dos celtas conservarem as cabeças dos oponentes de grande importância, quase como um troféu. A cabeça após ser decapitada era mantida em caixas de madeira.

O estudo sobre o dia-a-dia deste povo é um grande desafio que aos poucos está sendo superado. A falta de registros escritos sobre o seu cotidiano é o grande obstáculo, pois os celtas não o fizeram de nenhuma forma. Crê-se que foram os Druidas que proibiram o registro escrito, mas esse fato também não se confirma. Os únicos relatos que se dispõe são de autoria greco-romana e, em diversos aspectos, as informações podem não ser integralmente verdadeiras.


A Casa e o cotidiano dos celtas.



Ricos ou pobres, os Celtas viviam em casas simples, construídas com quaisquer materiais naturais, rapidamente acessíveis no meio ambiente local. Na maior parte das áreas isto queria dizer madeira, vime e argila, mas na Espanha e em zonas das terras altas da Grã-Bretanha, usava-se pedra sem argamassa. As casas celtas usualmente dividiam-se em dois tipos principais. Na maior parte da Europa celta, as casas tinham um plano mais ou menos retangular, mas na Grã-Bretanha, Irlanda e Noroeste da Espanha eram em geral circulares. Na Itália celta as casas eram difíceis de reconhecer, porque os Gauleses cisalpinos parecem ter adotado rapidamente as técnicas de construção dos povos nativos. Desconhecem-se construções monumentais, a escala das construções comuns do mundo mediterrâneo antes da conquista dos Romanos, contudo o tamanho de uma casa era provavelmente um bom indicador da riqueza e condição social do seu dono, sendo os edifícios maiores, as casas ou salas para banquetes da aristocracia.  A preservação das casas celtas é naturalmente melhor nas áreas onde houve um uso extensivo da pedra. Em algumas regiões construíam-se casas de madeira sobre fundações em pedra, que poderiam protegê-las da umidade e torná-las mais duradouras, mas na maior parte das áreas a madeira era simplesmente colocada diretamente no solo. Era normal as casas construídas dente modo durarem apenas 20 anos, antes de necessitarem ser reconstruídas, portanto, todos os vestígios das suas estruturas há muito que caíram. Contudo, os arqueólogos podem recuperar os projetos de casas em madeira, traçando os desenhos dos buracos das pontes deixados no solo. Muito depois de as madeiras que estiveram nesses buracos terem apodrecido, permanecem identificáveis para os arqueólogos, porque o solo com que preencheram esses buracos é em regra diferente na cor e textura, do que a volta que não foi modificado.


Devido ao extensivo desgaste das florestas, durante a Idade do Ferro na Europa, a madeira começou a ser utilizada de modo econômico. Independentemente da planta, a maioria das casas construía-se com armações em madeira, mas partes das paredes que não tinham madeira eram preenchidas com armações de varas revestidas de lama, ou seja, treliças de ramos finos seladas com argila para torná-las à prova de água. Para os telhados utilizava-se o colmo. Os interiores das casas celtas eram escuros e com fumo - não havia janelas ou buracos para sair o fumo, porque causavam correntes de ar e deixavam a chuva entrar - porem, encontravam-se bem isoladas e à prova de água. Os Celtas não deviam sentir frio à volta das suas lareiras nas noites de Inverno. A permanente área de fumo sob o telhado era bem utilizada - sendo seca, deficiente em oxigênio e sem insetos, era ideal para pendurar e conservar a carne. Não existem muitas provas do uso de mobília, porem, relatos escritos dizem-nos que os Celtas sentavam-se em peles e comiam em mesas baixas. Apesar de as casas mais largas da aristocracia poderem ter até quatro quartos, a maioria tinha apenas um quarto, pelo que existia pouca privacidade para os seus ocupantes. As casas de leme em pedra, que foram construídas no Norte da Escócia, tinham alcovas que se ligavam a Área de estar central (na planta parecem-se com uma roda radiada, dai o nome). Algumas destas divisões podem ter sido usadas como quartos de dormir, outras para armazenamento. Tal como a residência familiar, o típico trabalho de uma quinta também tinha varias dependências, tais como, estábulos para o gado, armazéns e oficinas.
Os escritores gregos e romanos chamaram muitos vezes a atenção para a impressionante aparência dos Celtas, descrevendo-os como, muito altos, de pele clara e louros ou ruivos. Isto é sem duvida uma descrição estereotipada, já que achados de esqueletos de sepulturas celtas não sugerem que fossem, no geral, fisicamente distintos de outros europeus. Os Celtas, aparentemente, tinham grande orgulho no modo como, se vestiam e se arranjavam, mas as modas variavam de região para região. O aspecto dos Gauleses é mais bem documentado, não só por escritores e esculturas gregas e romanas, como, o famoso Gaulês Agonizando de Pérgamo, mas também de moedas celtas e raras esculturas de cabeças em pedra. Os homens gauleses vestiam túnicas de mangas compridas com cintos a cintura e calças longas e largas; as mulheres usavam vestidos longos. As capas, usadas pelos dois sexos, eram decoradas com coloridos xadrezes e outros motivos. A maior parte da roupa era de lã ou linho e podia ser decorada com bordados e, para os ricos, com fios em ouro. A seda era um luxo que só os ricos poderiam adquirir. Ambos os sexos rapavam ou puxavam os pelos do corpo - um trabalho doloroso - mas os homens usavam bigodes abundantes e algumas vezes barbas. Os homens em particular parecem ter prestado muita atenção ao seu cabelo, que lavavam com uma mistura de limão e água para esbranquiça-lo e endurecê-lo de modo a poder ser moldado em pontas. Embora se esperasse que os homens comessem e bebessem exageradamente em banquetes, estes também vigiavam o seu peso, sendo consideradas as barrigas salientes como, algo de muito pouco atrativo. Isto é pouco vulgar, porque nas sociedades pré-industriais uma ampla figura, geralmente, associava-se a um sinal de prosperidade (as pessoas pobres usualmente não podiam comer o suficiente para aumentar de peso). Ambos os sexos usavam muito da sua riqueza pessoal na forma de joalharia. Alguma desta era de natureza prática - muitos broches, por exemplo usavam-se como, fechos para vestidos e capas - enquanto outras peças, como, as braceletes, anéis e colares, tornaram-se puramente decorativas. O objeto de joalharia que é mais associado dos Celtas é o torque - um pesado colar de metal torcido. Veem-se, com freqüência, representantes de deuses celtas usando torques, o que pode ter tido um significado simbólico ou religioso ou, outro, sinais de posição social. A tatuagem ou pintura corporal não parece ter sido, praticada pelos Gauleses, porém, era diferente da dos Bretões. Para os Celtas antigos, a expectativa de vida parece ter sido comparável com a das sociedades pré-industriais. Apesar de se terem encontrado poucas sepulturas de crianças - as crianças podem ter sido tratadas de modo diferente aos adultos no que respeita a morte -, a mortalidade infantil era com certeza muito elevada. A maioria dos homens, se sobrevivia a idade adulta, e quase certo que morreria antes de chegar aos cinqüenta anos, enquanto os riscos para a mulher associados ao parto eram tais, que esta teria muita sorte se atingisse os seus trinta anos. As tarefas domesticas exigiam pesados esforços físicos e repetitivos, como moer o trigo, o que queria dizer que quando chegassem aos trinta anos as mulheres sofriam de osteoartrite da espinha. Os cuidados de saúde eram, provavelmente, rudimentares, baseados na mistura de plantas medicinais e magia, mas alguns Celtas possuam técnicas curativas, tendo sido ocasionalmente encontrados instrumentos cirúrgicos em sepulturas.

O modo alimentar dos celtas.

representação da caricatura Asterix e Obelix

Os celtas tinham uma reputação de serem beberrões e comilões. Quando um soberano dava uma festa, era preciso preparar um espaço de 4km para receber todos os convidados. Por certo, o cardápio desse festim se compunha de enormes quantidades de guisado de carne de porco ou vaca, de caça ou peixe, de manteiga e queijos, de coalhada e mel regado a vinho, de hidromel e cerveja.  Conforme historiador grego Ateneu, os convivas comiam com os dedos “propriamente, mas de modo bestial, pegando com ambas as mãos um bom pedaço de carne e devorando-o a dentadas”. Usavam um punhal para corta-la e bebiam todos do mesmo copo, que passavam de mão em mão, não mais de um gole por vez, se bem que repetidamente. Tomavam um tipo de cerveja misturada com mel denominada de corma. Já os Senhores da aristocracia, bebiam o vinho servido em vasos ricamente ornamentados. Ao terminar o banquete, os convidados se deitavam no chão “para dormi entre os companheiros”.
Era de costume celta “sentar-se entre no feno e comerem muita carne cozida ou grelhada no espeto ou na brasa”. Os celtas que moravam em regiões perto do mar comiam também peixe temperados com sal, vinagre e cominho, mas sem azeite, “pois não têm esse costume”.
Convém relativizar este último ponto: o domínio celta era vastíssimo, e a oliveira, importada pelos foceenses, brotava em todo o litoral mediterrâneo, onde o azeite e azeitona eram muito apreciados. Ainda que fossem grandes comilões, os celtas condenavam a obesidade a ponto de até mesmo puní-las. Os gauleses viviam em grande parte da caça, pela qual tinham verdadeira paixão. Na sua mesa figuravam os cervos e os javalis, assim como os pássaros e a caça miúda. Os gauleses sabiam salgar e defumar a carne de porco; sua charcutaria era de tão apreciada que até mesmo Roma a comprava em grandes quantidades.  A cebola era também um dos outros produtos gauleses mais exportados para Roma. A bebida mais popular e fundamental entre os celtas era a cerveja e o hidromel. Provavelmente a cerveja era importada do estrangeiro, devido ao fato deles ainda não conhecerem o uso do lúpulo. Também consumiam sidra (pomatum), inclusive a de pêra chamada de piratum.    Também gostavam muito de vinho, mas este era geralmente importado da região de Marselha, onde os foceenses cultivavam a viticultura, ou então, eles importavam o vinho da Itália. Provavelmente da Gália Cisalpina, ou o vinho dos etruscos, e devido o comércio com os gregos, também importavam vinho com eles.   O vinho era transportado em ânforas vedadas com resina para que ficassem herméticas, pois eram porosas. Foram os gauleses que inventaram os tonéis de madeira, feitos de aduelas cingidas de aros de ferro, para conservar e transportar bebidas. Essa invenção foi adotada pelos romanos.




O ano céltico se dividia em quatro estações, cada uma delas inaugurada com um período de festas. Estas visavam atrair a proteção dos deuses, principalmente aos rebanhos e às plantações. As divindades da floresta eram particularmente importantes. Afinal, a floresta seguia como sempre tinha sido: um imenso reservatório de alimento. Lá os rebanhos de porco encontravam as glandes; os carneiros, os cavalos e as vacas pastavam na submata e nas clareiras. O bosque era povoado de animais selvagens, que os gauleses caçavam com lança, abatendo o urso e o javali com o venábulo, a lebre com o bastão de ferro, o cervo com arco e flecha. As vezes eram capturadas com rede, visco ou arapuca. Os gauleses adestravam matilhas de cães para caçada.  A coleta continuava sendo uma fonte muito aproveitável: o morango e o cogumelo, a avelã e o abrunho sempre estavam presentes nas mesas. Varejavam-se as castanhas e os pinhões. Extraia-se o óleo dos freixos.
As tribos celto-ligúrias não se opuseram à fundação de colônias por parte de Marselha, e com o tempo, o “império de Massilia”, alastrando-se pelo litoral ensolarado e mesmo pelo interior, normalizou suas relações com os habitantes locais: graças a amizade de Roma, o povo de Marselha vivia na opulência. Apresentou aos celto-ligúrios o encorpado vinho grego e o mel do Himeto. O povo de Marselha consumia também sopas e bebidas a base de cereais cozidos, como os celto-ligúrios. Produzim também uma grande quantidade de pães igualmente apreciados pelos gauleses: pães de cevada, de centeio, de frumento e de farinha de aveia, pães de luxo, amassados com leite e óleo, pães quadriculados (blosmilios) e pães em forma de meia lua (hemiaton), assim como brioches (kollabes). Os bolos eram mais variados ainda. Podem-se citar, entre os bolos comidos pelos gauleses da região de Marselha (Massilia), o phtöis, feito de uma massa de queijo fresco esmagado e peneirado, amassado com farinha de trigo fina; havia o itrion, uma bolinha feita de farinha de cevada e mel, cozida na água e enrolada em folhas de papiro.; o thion, massa de farinha de aveia e gemas de ovos, amassada com banha de porco, cérebro de porco e queijo fresco, enriquecido com amêndoas e uvas passas, depois enrolado numa bola, envolto com folhas de figueiras e cozido à fervura – para depois retirar das folhas de figueira e jogar essa espécie de pudim no mel cozido; e por último, o encris, bolo de farinha de sarraceno, azeite e mel.



É possível verificar aqui, que alguns hábitos alimentares dos celtas se assemelham ao nosso, até mesmo o costume de defumar carne de porco e os variados tipos de pães, todavia alguns muito exóticos. Acredito que esses costumes tenham sido perpetuados nas culturas posteriores e até hoje ainda é possível ver o consumo de bebidas tradicionais como o hidromel, a cerveja e o vinho. O vinho que desde aquela época era tão consumido e admirado, o vinho vindo das regiões do mediterrâneo, o vinho da Itália e da Grécia. Por mais hostil que tenha sido a convivência entre os celtas com os romanos, ou apenas de comércio e as vezes hostil com os gregos, tal contato, seja bélico ou comercial contribuiu muito pra saber sobre esse povo rico em cultura e filosofia. O povo celta é um dos povos mais antigos da Europa e que merecem toda admiração. Até hoje em alguns países é possível ver festivais e encontros para louvar a cultura celta. Países como Espanha (Galícia), França (Bretanha Francesa), Irlanda e País de Gales há muito da preservação e resgate dos valores culturais celtas. E hoje os movimentos neopagãos sempre enfatizam os celtas e seus valorosos sacerdotes, os druidas.

Referências Bibliográficas
FILIP, J. Celtic Civilisation and its Heritage: Praga, 1962;
KING. A. Roman Gaul and Germany: Londres, 1990.
 DE TERNANT, G. “À mesa com os celtas”_ Artigo retirado da Revista História Viva Edição Especial  Temática nº11_ escrito por Geneviève de Ternant (coautora junto com H. Parienté do livro “Histoire de la cuisine française”_Ed.Martinière, 1994).



3 comentários:

  1. Cara post bem completo! ótimo trabalho, da até trabalho de lêr! Hahahaha Temos de bater um papo sobre cultura celta, principalmente mitos e lendas!

    ResponderExcluir
  2. Ah com certeza, mas será uma pena ter que mudar de campus mas a gente vai se falando pelo face.

    ResponderExcluir
  3. Amei, muito obg mesmo! estou tentando fazer um trabalho, esta me ajudando muito.

    ResponderExcluir